março 04, 2013

E dantes as máquinas estavam sempre a avariar*



(GP)

Por exemplo, a indignação, não tarda, fará parte da superestrutura onde enfileira o capital e alinha o (des)governo desta nação (assim como outros (des)governos alinham noutras equipas do mesmo clube), e onde alinham os estaminés políticos, vulgo partidos, vulgo mercearias da clientela política com ramais de norte a sul. Os sindicatos e afins também alinham, notem bem que estes se desmarcam de qualquer estrutura inorgânica civil, dos cidadãos, até que estas se tornam organizações oficiais e passam a ser combatidas, basta atentar nos ódios de estimação à esquerda com compartimentos dentro de compartimentos, tipo as matrioskas russas, basta recordar a guerra civil Espanhola, para aqui chamada para nos recordarmos das démarches dos camaradas comunistas para controlar o poder do lado republicano (aniquilando os anarquistas e as cooperativas libertárias), e basta escutar as pessoas durante a semana para sabermos que os que se dignarem a votar o farão com a confiança e a sabedoria do ramerrame. 
A Indignação terá cartão próprio e hora marcada e será introduzida no normal funcionamento das coisas e das instituições, por exemplo, o ex-presidente do BCP, o senhor Filipe Pinhal, lidera já o Movimento dos Reformados Indignados, e brevemente o senhor Dr. Relvas liderará o movimento dos ex-governantes indignados que apenas arranjam grandes tachos, de preferência em empresas com quem lidaram no exercício das suas funções governativas. E, por exemplo, a este movimento, seguir-se-á um outro, o movimento do levantamento do cheque da reforma antecipada por préstimos à nação, calhando já com o código de reformado indignado. Entretanto, o ex-primeiro-ministro indignado seguirá as sábias pisadas do ex-ministro Sócrates ou do ex-ministro Durão o qual, visivelmente indignado com a falta de consideração indígena, se impôs uma temporada no limbo europeu, e voltará ao nosso querido inferno para nos tentar pastorear a indignação como presidente. O ex-presidente Cavaco, por exemplo, será então um indignado das reformas encavalitadas umas nas outras, aguardando a análise quimérica que fará justiça ao seu permanente silêncio de indignação. Ou será da indignação?


[fotografia publicada originalmente no Tio]

* título retirado da letra de uma canção dos GNR: "Pós modernos" (1986)

2 comentários:

Anônimo disse...

muito bom, cínico mas incisivo...talvez não esteja de acordo com tudo, há gente que luta todos os dias.

Artur S.

Gabriel Pedro disse...

:)

viver é uma luta de todos os dias:)

um gajo nasce par arrancar a ferros cada centímetro de terreno (como diz o Bukowsky), mas às vezes nem isso nos deixam:)