vivo abancado como um anjo no barbeiro
Rimbaud
O texto, após uma tirada sobre solas de vento, começa
assim:
Rimbaud passou
a vida a evadir-se de Charleville, mas a cidade e os campos das Ardenas são
indissociáveis da sua poesia. Agora a lenda do poeta maldito tornou-se na
principal atracção turística da região, dando origem a um sortido de circuitos
que iluminam a sua poesia ao mesmo tempo que levantam o véu sobre a França
profunda que a viu nascer. (daqui)
Rimbaud, o tal que muitos conhecem e poucos lêem. Não
me parece que ele se importaria muito com isso. Como, de igual modo, cedo se borrifou
para a poesia, preferindo viver [poesia?] a escrever, borrifando-se en passant para a França e para os
franceses. Depois foi o que não se viu.
Pensei em qualquer coisa de “uma temporada no inferno” ou “uma cerveja no inferno”, na tradução de Cesariny para a Assírio, mas deixo
antes um poema que Rimbaud escreveu talvez para o inútil, retirado do livro “35
Poemas de Rimbaud”, com a tradução de Gaëtan Martins de Oliveira, para a
Relógio D´Agua, edição de 1991 (o meu primeiro livro com a poesia de Rimbaud).
«Portas Brancas, beirais soturnos
Assim por domingos nocturnos,
No fim da cidade silente
A rua é branca, a noite assente.
É rua de estranhas moradas,
São feitas de anjos as portadas.
Mas junto a um poste já se avia,
Transido num jeito rufia,
Um negro anjinho a vacilar
De tanta jujuba enfardar.
Põe-se a cagar: desaparece:
E a caca maldita parece,
À vaga lua imaculada,
Branda cloaca ensanguentada!»
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