setembro 23, 2018

O centro do mundo - epílogo


Para não ser demasiado exaustivo diria que a autora pesquisou. Isso dá trabalho. Não se pode dizer que o pós-modernismo, embora alguns críticos o detetem em algumas açoteias (para não fugir muito à geografia do livro), tenha tido grandes seguidores neste país, quedando-se pelos modernismos que irradiaram de outro centro do mundo, Lisboa, o verdadeiro, assim o proclama a província. Ainda hesitei nas primeiras duas ou três páginas, mas à apologia da metaficção (andava para meter esta cena no texto nem que fosse de lado), junta-se-lhe uma pena com alguns arrufos clássicos, barrocos mesmo, ou não estivéssemos na proximidade de falarmos de literatura neste país. Mais não fosse, ficamos a conhecer Boris Skossyreff, Boris I de Andorra, Mano-Rei de Olhão, agente dos ingleses, oficial da Wehrmacht (com foto e tudo - as fotos são Sebald, não são?), preso e condenado aos Gulags; ainda por cima ficamos a saber da existência de Francisco Fernandes Lopes, de Raul Soares Figueiredo (o Tamanqueiro), do Sporting Clube de Olhão que foi campeão nacional e ninguém o recorda, nem disso nem da zanga de décadas com o Sporting Clube de Portugal a quem pertence o meu coração e futuro pacemaker (para meter o Gabriel à molhada); de Manuel Zorra, da desaparecida indústria conserveira, da pobreza e liberdade das gentes de Olhão, dos amantes adúlteros José Belchior e Filismina Inês, em fuga para o Brasil numa casca de noz (a sério); do manuscrito de João da Rosa, que lemos de forma condescendente, da geografia imaginária que é o centro do nosso mundo e nem todos o sabemos, da existência de lugares que são muito mais do que sítios. Mas sobretudo porque se lê bem até debaixo de água e nos dá uma vontade estúpida de escrever coisas assim, mas em edições mais baratas. Acho que é isso.  Não tarda volto com um filme que me deu que pensar cerca de um dia e meio, mais ou menos trinta e duas horas, intercaladas, claro, mas não sei bem com o quê.


continuação, para que conste, daqui e daqui.

2 comentários:

Ana Cristina Leonardo disse...

Muito obrigada! Só uma nota. Também li muito Tolstoi e não, não pesquisei assim tanto. :)

Gerónimo Cão disse...

Eu é que agradeço a visita:)
Viver é pesquisar. Acho que o Tolstoi concordaria, não sei...