julho 22, 2012

Não sei se o paraíso será uma espécie de biblioteca ou se ficará algures na Argentina: sucede que Borges escreveu assim sobre Manuel Mujica Lainez


«É difícil imaginar dois homens mais diferentes, mas fomos excelentes amigos. Descobrimos um vago antepassado comum, D. Juan de Garay, que era realmente, penso, Juan de Garay. A nossa amizade prescindiu do convívio e da confidência. Sou cego e, de algum modo, sempre o fui; para Mujica lainez, como para Théophile Geutier, existia o mundo visível. Também o teatro e a ópera, que em parte me estão vedados. Sentia, talvez tragicamente, a vacuidade das cerimónias, das reuniões, das academias, dos aniversários e dos ritos, mas essas máscaras divertiam-no. Sabia aceitar e sorrir. Foi, acima de tudo, um homem corajoso. Nunca condescendeu ao demagógico (…).
Cada escritor sente o horror e a beleza do mundo em certas facetas do mundo. Manuel Mujica lainez sentiu-os com singular intensidade no declínio de grandes famílias outrora poderosas.»

“Los Ídolos” (pp.518), in Prólogos com um prólogo de prólogos (1975), Jorge Luis Borges (Obras Completas 1975-1988). Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. editorial teorema.  

el paraíso

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