julho 23, 2011

Bússola Andress

Londres, Julho 2010

Há qualquer coisa de insidioso na rotina. O mesmo se passa na viagem. Talvez por isso ambas sejam tão necessárias. Pensava nisso agora enquanto começava a escrever algo, supostamente, acerca da linguagem, e de como esta serve como veículo de transmissão de falsificações, de criação de ilusões. Nas TVs da Europa, os movimentos tipo “indignados” surgem-nos como algo novo. Novo?, interrogo-me. Diferente? De que modo isso releva ou interessa ao outro lado, ao sistema capitalista? Existirá um outro lado, ou será apenas outra face da mesma moeda?

Recordo, por exemplo, um acampamento em Londres que observei em Julho de 2010, (uns meses antes dos acampamentos indignados - que merda de nome) ali bem no centro político da cidade. Não me recordo porém de o ver na TV, muito menos em Portugal. Foi-me confidenciado que era até um acontecimento banal, para aqueles lados, e permitido naquele lugar, portanto aceite, o que pode parecer estranho num país cheio de “proibido andar de skate nesta área”. Estranho? Talvez não.

Recentemente deparei-me com um “Bal Populaire”, ali para os lados de Montmartre, junto à estação de metro de Abbesses, organizado por uma tal de “Union des Etudiants Communistes”. A coisa era gratuit, e tinha supostamente uma costela de “solidarité avec les peples árabes!”, mas não se notava nada, quer dizer, a malta não estava a dizer palavras de ordem, nem sequer havia palanques ou discursos à volta da fogueira, nem assembleias, nem ponto do dia. E se calhar também não estavam assim tantos Árabes como isso. Simplesmente música ao vivo, rock, hip-hop, reggae - pareceu-me, e nada de especialmente recomendável; salsichas e uma cena qualquer de porco (porco e Árabes?) grelhada; bebidas alcoólicas (ui, os árabes), tipo cerveja choca, Ricard, vodka e até vinho tinto a copo. A fauna era variadíssima, entre pretos, brancos, árabes(?), alguns turistas, franciús, freaks, japoneses de câmara tudo menos oculta, e gajos que não se percebia muito bem o que eram, ou deixavam de ser. Se no primeiro dia ainda se viam uns tipos com autocolantes da UEC, no segundo dia nem isso. Não era encenado. Era quase só divertimento, aberto a toda a gente. Era barato. Ninguém chateava, mesmo quando alguém vociferava (quase murmurando): la decadence de la France. Podia-se até mijar no jardim minúsculo. Ou namorar. Ou mijar num café/brasserie próximo entre olhares cúmplices. Não, para além do gajo da decadance, não sei se estava muita gente indignada por ali. Mas aquilo pareceu-me livre, liberto, libertino. E isso é estar realmente do outro lado: talvez o pior que poderá acontecer ao sistema capitalista.


Place des Abesses, Montmartre, Paris, Julho 2011

Um comentário:

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