fevereiro 06, 2012

A infâmia como uma das belas artes


«Sobre toda a frente do cabeço de Souain, desde Setembro de 1915, os soldados de infantaria ceifados pelas metralhadoras jazem estendidos de barriga para baixo, alinhados como num exercício.
A chuva cai sobre eles, inexorável, e as balas partem os seus ossos embranquecidos.
Uma noite, Jacques, durante uma patrulha, viu sob os seus capotes descoloridos ratazanas a fugir, ratazanas enormes, engordadas a carne humana. Com o coração a bater, ele rastejava em direcção a um morto. O capacete tinha caído. O homem apresentava a cabeça contorcida, vazia de carne: o crânio à vista, as órbitas vazias, os olhos comidos. A dentadura tinha deslizado sobre a camisa podre e da boca escancarada saltou um bicho imundo».

Testemunho de Raymond Naegelen (combatente francês), in “A Grande Guerra 1914-1918”, Marc Ferro (pp.126). (Tradução Stella Lourenço, Edições 70).

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