janeiro 22, 2012

Um homem sai de casa. Desce a vereda alcatroada.


Aproximo-me do quiosque da esquina. Imagino uma gigantesca e colorida tabacaria. Hesito. Já não compro cigarros. Sussurro:” parece que já não fumo…até ver…” Escondo os dedos nas mãos e as mãos nos bolsos. Tem sido assim. Não me aproximo muito. Não compro o jornal, não teria como fazê-lo com os dedos escondidos nas mãos e as mãos escondidas nos bolsos. “O jornal está caro”- penso logo aí, e ainda ouço um “até ver…” enquanto me dirijo à padaria, sabendo-a vazia, ainda com os dedos escondidos nas mãos e as mãos escondidas nos bolsos e os bolsos escondidos...

(Mais tarde, chegado a casa o homem relê:
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu
.”
“Tabacaria”, Álvaro de Campos )

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