agosto 14, 2009

Os meninos do (de)coro

Para começar odeio escuteiros. Em tempos idos, frequentei raras vezes uma sede lá na terra verde para jogar pingue-pongue e fartar-me de rir daqueles calções com fitinhas e bolsos de lado, hoje tão em voga entre os nossos emigrantes juntamente com a fabulosa camisola de alças, vulgo, sport. Esses calções também figuram naqueles documentários rapetas que a RTP2 passa vezes sem conta (repetidos) durante a semana, nos quais o apresentador é uma espécie de Jorge Perestrelo (bem haja, esteja onde estiver), relatando in loco as vivências da bicharada, e onde aparecem, por exemplo, crocodilos violentíssimos (ainda a mão do dito cujo apresentador lhes atormenta o palato) a cantar valsas em línguas eslavas, e tigres sentados em regaços elegantes de biólogas com ar de quem nunca saiu de Woodstock. Ainda ontem vi um doc sobre um super-grupo de leões que ganharam três a zero a uma equipa de gnus recheados de estrelas. Foi um pitéu.
Mas voltando aos calções com fitinhas, um destes dias ia eu num daqueles comboios de ligação que se apanham depois de uma confortável e rápida viagem em inter-cidades, e que nos levam ao destino entre mil paragens com nomes como “Travagem”, quando dei de fuças com uma comitiva razoável de calçõezinhos enfeitados até à medula. Ainda quis saltar borda fora mas o raças do comboio modernizou-se entretanto com portas automáticas. Ainda com a cabeça de fora, na esperança de bater contra um poste de alta tenção, veja-se, logo aí, começaram os berros, as cantilenas pimba, os joguinhos infantis, e, quando resolvi, na medida do possível, sentar-me e ligar o Mp4, os berros vibraram mais, ainda mais, auxiliados por saltos na carruagem. O pica não desgostou. O resto da plebe, encaixada no seu reservatório de embrutecimento, anuiu, pois bem, anuiu, e, pode-se mesmo dizê-lo, apreciou aquele desvario dos bons samaritanos que respeitosamente mandavam toda a gente à merda. No final, enquanto procurava uma banheira para cortar os pulsos, ainda consegui escutar alguns hinos saloios, e um outro que soava a mofo em cálice gutural e terminava de forma sentida num”pela pátria e pela igreja”. E a família, para terminar a trilogia dos bem comportados da nostálgica mocidade, não?..
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Um comentário:

Edward Soja disse...

Brutal!

Até nos esquecemos que são pessoas...